terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Tempo, eis a questão!


Tempo, eis a questão!

Não tenho tempo. Como possuir o tempo se ele não é meu? Realmente não tenho o tempo. Aquele que insiste e quer possuí-lo pode ser agraciado, mas torna-se plasmado, isto é, não realiza nada, pois o tempo é empecilho; ele atrapalha a realização das atividades diárias, atrapalha o pensamento e a reflexão. Quem tem o tempo precisa administrá-lo e ele é exigente demais. Ele não permite nem mesmo que se exerça a fé prescrita nas Escrituras.

 Quem possui o tempo não consegue fazer mais nada, pois o tempo não deixa: os minutos são badalados um a um, as horas são esticadas, os dias vagarosamente marcados, os anos são seculares e os séculos, milenares. O tempo é pirracento, genioso. Ele quer exclusividade. É muito difícil ter tempo e ainda assim conseguir viver.

Para quem desiste de ter tempo, restam as ações, a perseverança, os sonhos, a fé. Essas pessoas ocupam o espaço, destinado ao tempo, com desejos, lutas e realizações. Para quem não tem tempo os minutos são imperceptíveis, as horas são estranhamente curtas, os dias cíclicos demais (volta rapidamente ao mesmo ponto), os anos são levemente tocáveis e os séculos podem ser pouco para tantas realizações.

Não ter tempo é ser dono da própria vida e não dar lugar à preguiça, é exercício de essencialidade! Quem não tem tempo é produtor de sonhos, de discussões, de conquistas e mudanças.  Quem não possui tempo está disposto a aprender, pois o princípio do aprendizado é abrir mão de ver o tempo passar.

Vida nova


Vida nova

“Ano novo, vida nova!” Frase comum nesta época do ano. Hoje, mesmo, enquanto aguardava atendimento na fila de uma agência bancária, não pude me furtar ao diálogo de dois professores. Eles iniciaram a conversa depois de gigantescas felicitações, um para o outro, de ano novo.  Em seguida, como eu não era atendido com a eficiência temporal de que gostaria, atentei que eles falavam de situações (boas ou nem tanto) por que passam em suas profissões.

Ouvi bem quando um dos professores (provavelmente de Filosofia) falou algo, mesmo em tom informal, mas com bastante autoridade:

“Ano novo, sim, mas vida nova é para poucos. Quem já parou para pensar que, em todo momento, estamos renovando?  A cada instante, materializado ou não por estalos filosófico-literários, o indivíduo não é mais o mesmo. Quem já parou para pensar que fingimos o tempo todo? Não falo do fingimento carregado de maldade e de intenção de ludibriar os outros, falo do dinamismo que é o nosso acontecimento como ser humano. Vida é movimento. Quando falamos algo do que vamos discordar dentro três dias, não estamos mentindo, estamos executando o fingimento que é inerente ao indivíduo constitutivamente de palavras, pois não se sabe quando deixará de  concordar consigo mesmo, mas precisa da consciência de que isso ocorrerá. As palavras surgem e desaparecem tão rapidamente que às vezes nem conseguimos verificar o que ficou delas. Algo é certo: fica a vida. Fazer uma vida nova significa, inclusive, perceber que a novidade está ocorrendo, a todo instante, mas que precisamos ter olhos novos.”

Uma sonora campainha soou, anunciando a que caixa da agência eu deveria me dirigir. Apressei-me. Que bom se soubéssemos que para ter vida nova, precisamos também ter novos ouvidos.

sábado, 1 de setembro de 2012

O ato criador


 

Para o poeta  Mallarmè, tudo que existe é para culminar num livro. Esse pensamento me fez refletir sobre a vida cotidiana, o ser humano. Sabe aquela imensa gratidão a Deus pelas bênçãos concedidas? São para se tornarem livros. Sabe aquele desejo de se casar e ser feliz para sempre? Aquela vontade sórdida de se vingar do chefe? Tudo pode se tornar livro.

Já parou para pensar que o sol escaldante ou o dia chuvoso fornecem matéria-prima para as mais belas poesias? As trapaças políticas, percalços no trânsito, as mazelas sociais, o ciúme, o medo, a coragem ou falta dela. Ter filhos, não tê-los, o aquecimento global, a sustentabilidade. Tudo, mas tudo mesmo pode culminar num livro. Parafraseando o poeta francês, não se trata de poder culminar num livro. Ele é ousado e faz desse pensamento uma importante sentença: é para culminar num livro.

Já para o filósofo Aristóteles, o papel do poeta não é dizer o que existe, mas o que poderia existir. Então o indivíduo não precisa fazer um depoimento, uma autobiografia. Precisa mesmo é de muita coragem, pois nada do que será escrito será de cunho testemunhal, é apenas alegórico.

A literatura é o entrelugar entre a linguagem e o real, garante Compagnon. A linguagem e seu domínio sobre ela.

Tudo que existe é inspiração para o livro. E quanto ao autor, ele pode mostrar sua face se quiser, mas pode ficar escondido, construindo belas paredes de letras no entrelugar.

O ato de criar é lançar mão da coragem de materializar através da linguagem escrita seus pensamentos. É fazer com as palavras importante parceria. Saber que o viver já é um grande ápice.

Será se o indivíduo autor, no ato de criar, existe ou apenas acredita que existe? Será se tudo que existe pode se tornar livro ou todo livro do mundo faz existir os seres que nele habita?

 

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Valorização do professor - papo de educador


 Papo de educador



Outro dia, enquanto conversava com um diretor de uma escola pública, ele me perguntou o que seria, dentro da minha perspectiva, valorização do professor. O primeiro estranhamento que tive foi perceber que essa pergunta não era retórica, mas o fato de ele (um diretor) realmente não saber a resposta. Pude fazer essa constatação catastrófica durante toda nossa conversa. Se fosse este diretor o único indivíduo inserido na educação e que não entenda desse processo, ficaria tudo muito mais simples. É inacreditável, mas há muitos iguais a ele, declaradamente  não sabem o que é valorização dos profissionais de educação ou melhor, não sabem o que é educação, antes, sabem como arrecadar fundos para as instituições, mas envolvimento no ensino aprendizagem é algo ignoto para eles, distante até.

No diálogo com o diretor, considerando as condições internas da instituição a que ele pertence, afirmei que valorizar o professor começaria em levar em consideração os pontos positivos desse profissional. Se ele tem habilidade para desenvolver um determinado projeto importante para a escola, invista nesse projeto – certamente o professor saberá que ele tem valor. Se esse professor realiza um bom trabalho em uma determinada turma, identifica-se com essa faixa etária, permitir e estimulá-lo a continuar realizando esse trabalho é uma forma de valorização. Explorar e permitir que o profissional demonstre seu talento dentro de vários setores de uma escola é valorização.

Obviamente que me refiro à valorização no que tange à postura dos gestores em relação aos seus profissionais. Não faz parte do escopo desta reflexão, a atenção que a sociedade dispensa ao processo educacional. Muitos diretores acreditam que são “donos” das escolas geridas por eles. Inclusive esse tipo de diretor não gosta de ser questionado a respeito dos cargos dentro das escolas, isto é, sente-se extremamente ofendido, caso alguém pergunte qual é  a função deste ou daquele funcionário da unidade escolar. Esquecem que ser gestor é ter o privilégio de cumprir uma legislação (9394/96), principalmente quando essa legislação se refere à gestão participativa. E quanto aos que apropriam de suas escolas,  tomam atitudes que privilegiam uns em detrimento de outros; decidem assuntos sem pensar exclusivamente na educação, mas visando a questões políticas; são egocêntricos, gostam de ser bajulados, querem ser o centro das atenções, quando na verdade o espetáculo deve ser feito pelos alunos. O sucesso do aluno repercutirá naturalmente na postura da direção de uma escola, por isso não há necessidade de camuflar toda equipe de trabalho para que o gestor apareça na foto. Tem lugar para todos na fotografia oficial, mas é preciso permitir. Isso também é valorização.

As declarações acima, é claro, são peculiares de algumas instituições Brasil a fora, mas o que incomoda é saber que elas existem e parecem perenes. Valorizar o professor vai muito mais além de criar um restaurante na escola, oferecer lanche com coca-cola. Valorizar o professor é mais do que entregar bombom com cartão em datas comemorativas ( Dia da Mães, Páscoa, Natal...),  é saber que professor é ser humano. Precisa ser tratado como gente. A escola pode,  dependendo do dinamismo e capacidade de relacionamento  do gestor com sua equipe,  criar uma redoma de bem estar. Essa redoma de bem estar certamente redundará em sucesso dos educandos e consequentemente sucesso do gestor.

Ao falar em valorização do professor, não se pode omitir o papel do estado. Por falar nisso, é importante que se note que quanto ao salário dos professores, há algo paradoxal, mas certo: um bom salário não faria o professor mais feliz. Como assim? Não parece ser essa a grande  luta da classe? Não. Os profissionais querem é valorização. O engodo do aumento salarial não desmotiva o professor pela moeda em si, mas pela cifra do valor, isto é, se o deputado recebe um aumento de 100%, o diretor de 45%, isso significa, para o estado, a importância, em porcentagem, do parlamentar e do gestor, pois os números são exatos.

O que é valorizar o professor? Reitero a pergunta do diretor, citado no início do texto.  O profissional da educação lida com um trabalho extremamente abstrato – mundo das ideias – e isso contribui para essa desvalorização. Ninguém vê materializado o resultado do trabalho de um professor (às vezes nem o próprio), pois o investimento que ele faz hoje, não oferecerá resultado imediato, bem como a falta desse profissional também não cria, de forma visível, uma lacuna. Paralelamente, pensemos em outro profissional: um engenheiro, por exemplo. Ele imagina, desenha e desenvolve  um projeto, determina o material a ser utilizado na obra, acompanha e finalmente o edifício está pronto. É algo materializado para comprovar seu trabalho. Veja o caso do arquiteto Niemayer, como suas obras são vistas por todos, ele é reconhecido pelo seu magnífico talento.

O advogado pode contabilizar quantas causas ganhou, as artimanhas utilizadas por eles em processos podem até virar livro. Assim, muitas outras profissões podem ser “visualizadas”.

Como comprovar o trabalho de um professor se ele não constrói fisicamente o ser, ele é mediador, instrutor, orientador, todavia de suma importância. Um indivíduo bem sucedido não é obra acabada de um “engenheiro-arquiteto-professor”, mas de vários profissionais da educação, da família, da sociedade. Por isso há dificuldade de valorizar esse professor. Seu trabalho é abstrato demais. Só consegue ver quem nitidamente está envolvido no processo educacional, não se pode mensurar a participação do professor A ou do B na formação de um cidadão. Só uma sociedade extremamente politizada e consciente da importância da educação poderia valorizar tal profissional, mesmo sem “contabilizar” o resultado do seu trabalho.

Valorizar o professor é saber que, embora sua função seja lidar com o mundo das ideias, é imprescindível para a estruturação saudável de uma sociedade. Fazer uma gestão participativa e transparente, empenhar-se para obter qualidade ao invés de quantidade de ensino também são formas de valorizar o profissional da educação. Entender o que é valorizar o professor não é tão difícil assim, mas é preciso estar verdadeiramente inserido no processo e ter boa vontade. Só isso!

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

O mistério da escada


Toda cidade do interior possui um casarão abandonado que povoa a mente das crianças com fantasmas, ranger de portas, teias de aranha, morcegos ou mesmo vampiros.

         Mas na pequena Alcaçuz, o casarão foi substituído por uma escada enorme. As pessoas mais velhas diziam que os antepassados construíram a tal escada a fim de chegar ao céu e garantiam que havia quem, no século anterior, conseguira essa façanha.

         Pedra Yasmin, uma menina curiosa e cheia de imaginação, resolveu descobrir o mistério.

         -Está sem juízo, menina?- dizia a mãe.

         -Desista, Pedra Yasmin, bobagem. –afirmava a avó.

         -Isso é um perigo. – bradava um patriarca da cidade.

         Como Pedra Yasmin vivia há pouco tempo naquela cidade, não se deixava levar pelas histórias de terror em torno da escada, por isso foi até o tão temido lugar.

         -Uma escada – constatou – mas o que pode haver de misterioso?

         Pedra Yasmin resolveu subir as escadas, contrariando tudo que já havia ouvido e assim desafiar aquele desconhecido mundo.

         A cada degrau galgado, uma nova sensação: frio, calor, vento forte, neblina, muita neblina, sensação de medo, estranha coragem... Junto com as sensações, vinha imagem de determinado lugar. Pedra Yasmin se divertia muito nos primeiros degraus, mas quando teve a ideia de olhar para trás para ver sua cidade Alcaçuz, percebeu que isso agora era impossível. Só se via uma escuridão horrenda e ela sentiu, pela primeira vez, vontade de voltar.

         -Olá, menina curiosa!

         -Quem é você? – Pedra Yasmin perguntou já aflita.

         -Escolha um dos degraus para viver; qual desses  universos você deseja?

         -Não... eu quero... – a garota não pode continuar, o vento forte a derrubara do centésimo quinquagésimo quarto degrau.


quinta-feira, 9 de agosto de 2012

O "outro eu"


O “outro eu”

         Em meio à miséria urbana nítida, a multiplicação das células constituiu dois ao invés de um: gêmeos morenos.

         Agora eles eram dois para dividir as desgraças, dissabores e desventuras daqueles que, mesmo sendo dois, choravam as mesmas dores. A lama das chuvas de janeiro sufocou a vida de quem lhes deu a vida.

         Jogados à sorte, criados pelos tios, os gêmeos precisavam admitir que eram dois quando precisam dividir o mesmo pão para, talvez, saciar a horrenda fome. Diante de humilhações vividas, eles se chocam com a dura realidade: não são filhos de sangue, são apenas duas bocas.

         São eles os culpados das mazelas daquela família e do mundo é o que esbravejam os tios que assumiram a guarda desses seres idênticos.  Sempre ouviram que eram o fracasso, a burrice aliada ao tormento. Eles nada são!  Eles tudo são! São incômodos dos ascendentes que não “tão generosos” os adotaram.

         Naquele dia foram enviados pelos tios ao centro da cidade para o trabalho de pedinte, mas se depararam com mais uma agrura inesperada, pois um em uma direção e o outro na outra, o desencontro. Eles se perderam um do outro. Um dos garotos procurou desesperadamente o seu rosto projetado nas feições do outro. Procurou pelo irmão na certeza de que a qualquer momento veria aquele sorriso inexpressivo sempre despenteado e a cicatriz exposta no supercílio, resultado do caco de telha que havia recebido há poucos dias durante a disputa por algumas latinhas para reciclagem. Nada!

         O horário de pico da grande metrópole, ilustrado pela movimentação frenética de todos os seres que disputavam espaço dentro dos metrôs, denunciava que o dia já findava, mas o outro eu – maneira como eles se referiam um ao outro por notificar tamanha semelhança física -  não surgia. Desanimado, resolveu voltar para o morro. Voltar para quê? Talvez o irmão tivesse voltado antes, e assim o reencontraria e atenuaria a dor que lhe cortava o peito. Subitamente atendeu a um impulso de seu cérebro e ao invés de seguir por mais quarenta minutos no metrô, desceu ali, rapidamente, sem antes se dar conta com precisão de que região era aquela.

         O outro eu poderia não perdoá-lo por não voltar para casa, mas que penhor teria de que o irmão voltara? Não queria saber, não poderia. Dividir os tormentos os amenizaria, mas encarar os tios, sozinho, sem o dinheiro do “trabalho” do dia e ainda ser submetido aos mesmos tratamentos, era tudo que ele não queria reviver. Já podia imaginar o hálito que denunciava a embriaguez do tio, encarando-o bem próximo, acusando-o de saltérios e proferindo-lhe xingamentos dos quais nem conhecia o significado.

         Nas calçadas e sob pontes, sobreviveu. Viu a fisionomia da fome, do abandono, apresentaram-lhe a droga mais acessível, pois sabia que a eterna e crescente dor já invalidava sua condição de amar e sorrir. A solidão fez morada naquele coração que vivia entre tantos corações. Dias que mais pareciam anos. Anos que mais pareciam décadas, ou eram décadas? Perdera algumas noções, aprendeu a viver e conviver com a escória da sociedade, com o lixo humano e ser um elemento desse sistema excretor de seres.

Por várias vezes, sentia-se humilhado, pulguento, leproso. Enquanto caminhava pelas calçadas, nas regiões do pós-feira livre – principal fonte de alimento – se orgulhava de comer, sem controle de qualidade, mas fresco.

Os anos chegaram. Uma importante decisão: queria  encontrar o outro eu e faria de tudo para fazer disso uma realidade. Ele, agora já homem, queria rever o irmão. O que teria feito da vida? Teria voltado para casa? Adquiriu maturidade para voltar ao morro e procurar pelos seus – eram seus? Ele se perguntava enquanto subia pelos becos. Podia rever alguns rostos conhecidos, e antes mesmo de chegar ao barraco de seus tios já tinha a resposta:

-Não moram mais aqui. Faz quinze anos que sumiram daqui.

Quinze anos? Esse era o tempo – aproximadamente – que se perdera de seu irmão na praça. Teriam desaparecido? Mas e seu irmão?

Ele se conscientizou de que a rua, seu eterno lar, era para onde voltar. Não tinha história, não tinha origem. Os delitos a serem cometidos poderiam ser mais intensos, pois não tinha que provar nada para ninguém. Precisava apenas viver, e manter seu vício. Uma triste decisão!

O semáforo, lugar de encontros. Ali, podia ver rostos bem maquiados e olhos que temiam sua presença. Podia ver a ostentação do poder sob óculos escuros e atrás de vidros escuros. Ele era visto – e sentia-se  comose fosse fezes de cachorro aguardando para tornar esterco ali, sob aquele sol de quarenta graus. Sentia-se a pior substância. Era o pior elemento. Precisava sustentar seu vício...

Preparou-se para o “investimento”, poupou raciocínio, porque precisava agir e rápido. “Pode ser aquele”. Ao se jogar armado sobre o vidro do carro que acabara de parar em respeito à sinalização de trânsito, foi enérgico. Anunciou suas intenções, mas estranhou, pois o homem daquele carro o fitou corajosamente. Nada falou,  mas permitiu-se chorar copiosamente. O infrator possuía  tom  enfático, impactante e intimador, mas diante da inércia do outro de tez morena e daquele urro de dor, decidiu olhá-lo. Que face era aquela? Seria alucinação? Como poderia assaltar a si mesmo? O outro eu em outra história...




quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Para nossa alegria...

Para nossa alegria...
Depois que a dupla, Jefferson e Suellen, apareceu na internet, cantar “Para nossa alegria” virou motivo de riso ou de alegria.  Mais de vinte milhões de acessos! Seria devido às caricaturas do rapaz ou à moça desafinada? O riso torna-se inevitável, mas engraçado mesmo é pensar que para nossa alegria faltam poucas coisas.
Nós não nos preocupamos com as questões políticas “Tanto faz, de todo jeito vão roubar mesmo”. Essa frase se torna lugar comum em período pré-eleitoral ou de eleição, mas engajamento mesmo é muito pouco. Conhecer os candidatos novos, trazer à tona as peripécias dos eleitos, que têm intenção de reeleger-se, pode ser motivo de alegria. Alegria para o país, é claro, pois os possíveis mencionados dirão que não sabiam de nada e que sua assessoria é que era falha. É como se para nossa alegria bastasse deixar para lá, pois tudo se resolverá sozinho.
As Olimpíadas – importante evento esportivo – refratam as questões de corrupção no Brasil, as águas correm tranquilamente e ninguém mais quer saber se esse ou aquele processo vai ser julgado. Importa mesmo é saber quantas medalhas eventualmente o país está ganhando. Para a nossa alegria, são dezessete dias de muito esporte e desvio de atenção. Não é engraçado como não conseguimos conciliar as coisas. Para alegria de quem?
Não é engraçado, mas as mazelas sociais (como, por exemplo, o crack e a pedofilia) continuam aniquilando e mutilando seres humanos; a educação, até mesmo nas instituições federais, pede socorro, mas não há tempo para resolvê-la. É mês de férias. A saúde pública seja de responsabilidade municipal ou estadual é precária, mas temos motivos para sorrir. Claro, o sorriso alivia dores, ainda bem.  Já que o exercício da fé torna-se cada vez mais distante, precisamos nos agregar a outros subsídios.
É como se tudo estive indo bem, “Para nossa alegria...”. As caricaturas políticas já são bem conhecidas, mas insistimos em votar  nelas; os discursos desafinados continuam os mesmos, mas ignoramos o árduo processo de conscientização.  Realmente precisamos de vídeos postados na internet – podemos bater a marca de 30 milhões de acessos - a fim de buscarmos motivos para nossa alegria, mesmo que seja ínfima alegria.